Rotações: Lívia Nestrovski
by Renata Luiz
A primeira vez que ouvi Lívia foi na estrada SP-Rio em 2013, ela dizia que o fogo do amor ensinou ser o barro embaixo do sol, ser chuva lavrando o sertão…
Sim, isso é uma alusão à Joni Mitchell. Não por terem semelhanças diretas, mas simplesmente porque ambas as vozes são alucinantes. Lívia é cantora por excelência. A (originalmente) americana, que hoje divide sua carreira musical com a de professora universitária, tem um alcance lírico que atravessa todos os poros da pele do ouvinte. Integrou diversos projetos durante sua carreira, tendo como mais conhecido o disco DUO, lançado em 2012 ao lado de Fred Ferreira, contendo canções de grandes nomes da música. Além disso, vive um momento muito bacana na carreira, tendo disponibilizado neste ano, um CD gravado em parceria com Luiz Tatit e Arrigo Barnabé (com quem trabalha há alguns anos), De Nada Mais a Algo Além.
Tendo uma teatralidade expansiva em sua voz e figura, Lívia atuou em diversos espetáculos, entre eles “Ary Barroso – Pra machucar meu coração”, “Dolores Duran por Lívia Nestrovski” e “Dalva & Herivelto – Sinfonia de Pardais”. Filha de músicos eruditos e com uma colocação vocal invejável, acompanhou algumas orquestras. A sonoridade da cantora e o alcance de sua voz fez com que ela fosse recebida com muita euforia pela mídia nos últimos anos, sendo considerada uma das grandes dessa nova geração de cantoras.
O visual marcante de Lívia e seu olhar expressivos lembram a literária Capitu de Machado de Assis e nós somos meros Bentinhos, manipulados pela sagacidade dessa mulher que faz o que quiser com seu canto deleitoso. Se ela talvez tivesse inspirado Machado há mais de 100 anos, quem será que pode ter influenciado ela, hoje, em sua carreira? Ela nos conta:
“Minha formação musical foi bastante eclética – ouvi desde música tradicional do Azerbaijão até David Bowie, passando pelas coisas mais estranhas e contraditórias possíveis, como Xenakis, Gershwin e Chavela Vargas. E muitos discos me marcaram. Blue (Joni Mitchell), O Calendário do Som (Itiberê Orquestra Família), Gerais (Milton Nascimento), Voz e Suor (Nana Caymmi e César Camargo Mariano), e Overgrown (James Blake), foram importantes em momentos diferentes. Mas se tiver que escolher, diria que Elis e Tom foi o disco que mais causou reviravolta em mim. Foi um processo longo: quando tinha uns 15 anos, um professor de piano me emprestou o disco. Ouvi e gostei, mas não amei. Anos depois, já na faculdade, voltei a ouvi-lo – loucamente. Aprendi ali que era possível fazer algo dramático e sutil ao mesmo tempo. E dali pra frente, toda vez que ouço esse disco, aprendo alguma coisa. O repertório, os arranjos, o acompanhamento, tudo é perfeito, conciso, exato. Pois É (Tom Jobim/ Chico Buarque) é minha canção preferida atualmente, mas tenho fases.”
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