Som e Fúria: Saudade Sideral
E se eu te disser que fui à lua? Que fui e que não encontrei nada de interessante por lá? Nem mesmo a imagem da Terra de cor azul distante, a mesma que apaixonou e comoveu tanta gente, acendeu em mim uma fagulha sequer de contentamento. Logo eu, que desde pequeno já levantava meus olhos curiosos para o céu, buscando a claridade dela para iluminar as minhas brincadeiras noturnas de menino.
Eu sempre fantasiei sobre como seria minha chegada lá, cheia de brilho, mesmo que emprestado do Sol. Achava também que poderia ver São Jorge por lá, fazendo aquela ronda marota, só pra garantir que o dragão não estava pelas redondezas, mas não tive sorte. Talvez estivesse de folga ou eu tenha pousado na fase errada (talvez o plantão seja apenas na lua cheia).
Bom, o importante não é o fato de eu ter ido até lá, não é sobre isso que quero falar. Tampouco é sobre a minha volta que quero escrever, mas sobre o meu (des)encanto. Não falo de decepção, que a viagem tenha sido uma merda e que foi uma completa perda de tempo viajar mais trezentos mil quilômetros só para pisar em lugar deserto que não vê uma viva alma há mais de quarenta anos. Não, não é nada disso.
O fato é que voltei de lá como quem volta de uma caminhada no parque em um dia de domingo: feliz por ter ido e ainda mais feliz por ter voltado.
É que lá não tem tua cama, nem tem os olhos dos quais sou cativo. Falta pele, abraço e falta tua risada ruidosa, mais gostosa que o silêncio de uma supernova. Não sei por que os cães insistem em uivar para a lua em busca de consolo; ao invés disso, deveriam fazer serenatas intermináveis debaixo da tua janela. Eu estaria lá, junto aos meus fiéis amigos de sarjeta, mendigando um pouco dos seus olhos e cheiro – para nós, o seu pouco é sempre suficiente.
No fim, ainda não sei direito o que me fez ir, mas sei muito bem o que me fez voltar.
Publicado originalmente na Revista Catwalk
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