Resenha: Thiago França
by Di Pietro
O mineiro Thiago França tem esbanjado fertilidade já faz tempo.
Seus filhos se espalham por aí, e ele se desdobra para cuidar de todos, do Metá Metá, com Kiko Dinucci e Juçara Marçal, do MarginalS, com Marcelo Cabral e Tony Gordin, do Sambanzo, isso sem falar do seu envolvimento em uma série de projetos, seja como compositor, instrumentista ou produtor.
Sem dúvida, Thiago é um dos nomes mais evidentes do cenário atual, não só por sua música, mas por sua habilidade extraordinária em tirar do saxofone timbres, linhas e variações que modificam a herança do instrumento e o elevam a outro patamar.
Thiago é esse cientista do sax. Começou aos 11 anos e certamente ouviu muitos dos grandes nomes, como Coltrane, Marsalis, Rivers, mas decidiu trilhar um caminho diferente. O sax, para ele, não seguiria o modelo de outrora. Seria aquilo que ele pudesse fazer do sax: uma percussão, uma guitarra, uma voz. As amarras do solista se desataram para que Thiago se tornasse um desbravador de novos percursos rítmicos.
Em sua obra, vê-se nitidamente uma mescla de essências. Seu pontapé inicial, em 2009, com Na Gafieira, como o nome já adianta, traz as presenças marcantes do samba e do choro. Teias de cavaco, pandeiro e violão servem ao deleite do sax. São músicas de serenidade, amizade, e também perfeitas para um bom torresmo com cerveja. Sugiro experimentar o balanço de “Na gafieira” e “Macumbeiro” e o romantismo de “Lembranças” e “Saudade louca”.
Em 2012, após 3 anos de Sambanzo, que soma samba a banzo, a saudade da África pelos escravos negros, veio Etiópia, o primeiro trabalho em estúdio, para fundir ritmos brasileiros, africanos, latinos e o jazz. A gafieira continuou presente, mas o sax de Thiago esteve mais curioso e experimentável, como provam a latinidade de “Tilanguero” e o jazz frenético de “O xangô da Capadócia”.
Este ano, foi a vez da Espetacular Charanga do França, projeto batizado nas noites do carnaval paulistano, lançar seu disco. Nele, o sax de Thiago se aventura definitivamente por novas texturas, mais dançantes, que passeiam entre outros ritmos pela cumbia, maxixe e salsa.
Esses três trabalhos possuem a mão forte de Thiago França e formam uma boa narrativa para os que desejam entender quais pegadas o saxofonista mineiro está seguindo e, o mais importante, quais está deixando marcadas na terra. Ouvir a discografia completa, navegando também por parcerias e projetos paralelos, será revelador.
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