A Noite do Espantalho – Sérgio Ricardo, Alceu Valença (1974)

A Noite do Espantalho – Sérgio Ricardo, Alceu Valença  (1974)

Este disco é a trilha sonora do filme “A Noite do Espantalho”, do próprio Sérgio Ricardo. Sobre o filme – “A noite do espantalho é um filme musical de natureza rara no contexto da cinematografia brasileira, dialogando com as mudanças que o gênero sofreu nas décadas de 1960-70, expressas em filmes pop como Hair e Jesus Cristo Superstar, por exemplo. No ano de 1974, Alceu Valença e Geraldo Azevedo foram convidados, ao lado de Sergio Ricardo, para participarem da série Disco de Bolso, do Pasquim. Como o projeto não foi pra frente, os artistas foram convidados pelo próprio Sergio para participar de um filme que ele gravaria em Nova Jerusalém, sertão de Pernambuco. Alceu participou como ator, representando o espantalho. As composições são de Sergio Ricardo e, além de Alceu, Geraldo Azevedo, Ana Lucia de Castro, Joana da Fazenda Velha, João Teixeira e João Cortez também cantam no filme.“

– Guilherme Maia

Só o artista que conhece o sentimento humano consegue revelar suas imagens e seus cantos, ao nível em que eles se manifestam: com exatidão e pureza.

Sérgio Ricardo, neste disco, criou um personagem, o Espantalho, que é ao mesmo tempo uma espécie de místico e cantador de feira e, na sua boca, lança uma estória cantada que não é outra coisa senão uma estória do povo cantada pelo próprio povo: com imagens e música.

As imagens criadas encontram-se fantasticamente, dentro de uma visão futura do povo para justificar sua realidade, que é uma literatura de cordel feita pelo próprio autor, onde o seu talento de cineasta é revelado. Agora, a união das tais imagens à música completam o todo da obra de forma que não existe o distanciamento entre música e imagem; e imagem e música porque uma completa outra.

Portanto, este trabalho de Sergio Ricardo é para ser visto e ouvido, ouvido e visto.

Vamos ao disco?

Para escutar esta linda obra de arte, primeiramente você deverá ter uma vitrola com um equalizador. O motivo disso é simples. O disco é tão rico musicalmente, com instrumentos subindo e descendo de tom que com um equalizador ficará melhor para ouvir. E cada música deve ter uma equalização diferente. Esse é o ponto principal desta obra.

A primeira faixa é “Canção do Espantalho”. Canto chorado com a voz em destaque e alguns instrumentos de percussão ao fundo. Beira um cordel este início. Depois vêm as cordas. Maravilhosa composição. Bom deixar os agudos mais destacados na equalização Vale a pena.

“História que se Conta” dá andamento perfeito ao fim da primeira faixa. No decorrer, vem a sonzera do nordeste, com um bandolim maravilhoso. Deixe a equalização no médio, com leve alta nos graves para que a marcação do tempo tenha um pouco de destaque. Bate no fundo do coração. “Meu Nome é Zé do Cão” é jus ao jagunço personagem do filme, não falarei muito, veja o filme e sinta a obra. Melhor coisa é deixar mais grave na equalização, para conseguir escutar coisas escondidas (em MP3 não dá pra ouvir tudo, baixa qualidade, tem que ser no vinil mesmo). O refrão deste som é o melhor do disco. Que canto maravilhoso…

“Pena e o Penar” começa com uma atmosfera melancólica. Conta com a voz de Ana Lúcia de Castro, fazendo das penas o penar. Linda canção, que deve ser equalizada para o agudo para casar bem a voz com a flauta. Sem perceber a música muda para “Tulão das Estrelas”. Mesma música que parece ter sido dividida em duas.  Conhecimento é sabedoria, filho que sai da terra volta diferente. Ouça com atenção este som, pois da mesma forma que inicia ela termina, emendando com a música seguinte. O lado A fecha com a música “Pé na Estrada”, bem repente nordestino.

O lado B do disco abre com “Noite de Maria”. Noite de luar no sertão e melancolia como se contasse a história do sofrimento… Arrepia. Ajuste a equalização para médio, com um leve agudo mais alto para que a flauta e o piano se destaquem. O coro ao fundo é de chorar.

“Mutirão” é mais sambado. Vale deixar mais aguda a equalização, a contagem de tempo estoura de estiver muito grave.  Seguida por “Festa no Mutirão” é  aquele som nordeste pegado, pesado, corrido. Lembra umas passagens do grande rei o baião, Luiz Gonzaga.  Vale prestar atenção no fundo da música, uma poesia linda contada (só dá pra ouvir no vinil também).

“Briga de Faca” é autoexplicativa. Um som místico, lembra capoeira, algo de Seres Tupis. “Martelo a Bala e Facão” é um cordel maravilhoso, com uma poesia linda e trilha sonora de tiros ao fundo. Deixe no médio a equalização. Caso contrário estoura, tanto no grave quanto no agudo.  Sem perceber, a música “Macuã” inicia. Música bem grave, com baixo destacado e voz de trovão. Bem estilo encerramento, para deixar saudade.

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Para este disco eu indico a cerveja Scarecrow (espantalho em inglês). Cerveja orgânica, produzida pela cervejaria Wychwood Brewery é uma Golden Pale Ale de 4,7 de teor alcóolico. É orgânica pois o malte de cevada inglês é produzido organicamente e lúpulo selecionado. Cerveja recomendada para dias mais quentes. Possui uma combinação balanceada de sabor de frutas cítricas. Combina bem com pratos leves como peixe, frango e saladas.

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Pedro Cindio - Jornalista narigudo, músico frustrado e apaixonado por música, tenho um toc de só escutar discos completos. Cervejetariano e feio, mas meu humor salva a aparência.

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