Zé Rodrix e Agência de Mágicos
by Pedro Cindio
Quem Sabe Sabe, Quem não Sabe não Precisa Saber (1974) “A sua vida inteira você ficou tentando achar alguém como eu, que fosse bom pra você enganar, pra roubar pra tirar vantagens, e eu que tinha tanta experiência, ainda sim caí na sua conversa, meus 30 anos de janela acabaram não valendo de nada, quase nada”. A música de abertura do disco é tão incrível que não imaginei iniciar falando do disco sem ela. Que levada, que letra, e todas as maluquices que só o Zé sabia fazer…
Zé Rodrix já esteve nesta lista, porém com a banda Joelho de Porco e “Spoiler” – mais para frente entrará outro disco que ele tocou-. Agora merece a atenção este trabalho solo dele. Este disco é o seu segundo disco solo, mesmo gravando e saindo para shows com Sá & Guarabyra. Zé sempre foi um compositor universal e com muitas ideias, então músicas era o que ele tinha de sobra nos anos 70. Para este disco, ele convidou a banda “Agência de Mágicos” e fez o seu melhor disco. E olha que no ano anterior Zé gravou com Sá & Guarabyra o disco “Terra”, seu primeiro disco solo e ainda teve tempo para gravar com o Sexos & Molhados no disco de 1973, ainda fazer a coautoria da música “Fala”… Realmente, deve ter sido um ano inspirador.
Lançado pela Odeon, vendeu pouco na época – foram 10 mil prensagens que se perderam entre estantes que nunca mais rodaram. As poucas pessoas que o têm não vendem por barato, pois realmente é uma obra prima de Zé. E qual motivo disso?
Zé Rodrix tinha uma peculiaridade nos discos que gravou. Todos os discos são uma espécie de ópera, onde não funciona escutar apenas a faixa 2 ou a 5. É do início ao fim, e é disso que eu gosto – influências de Pink Floyd e Yes, claro-. Tanto é que seu primeiro disco solo chama-se I Acto. E isso nunca fez sucesso no Brasil. Poucos admiram obras desta maneira. Então, bora ao disco…
A fantástica “Quem sabe sabe, quem não sabe não precisa saber”, que dá nome ao disco, nos dá as boas vindas ao que vai vir. Refrão forte, voz sintetizada e um rock rural dos grandes. O casamento da voz, sintetizadores e guitarras com uma bateria pesada dá um gás no disco.
Mas logo na segunda ele pisa um pouco no freio. “Muito Triste”. Refrão lindo, com um coro bem legal e uma ótima reflexão no final, ‘…eu tiro os outros por mim’. “Compota de Cereja” dá uma animada maior, com uma prosa musicada de dar inveja a quem escreve sem se importar com rimas. Um suingue bacana , com o piano sendo tocado a pancadas.
“A Volta do Filho Prodígio” é uma história de um menino que morava em fazenda e foi para o mundo, pois estava revoltado com a família, ‘ que não dizia que sim nem que não’. A grande questão da música é se ele chama as empregadas de vacas ou se ele fala sobre vacas da fazenda mesmo. Ambiguidade é o que ele mais gostou de fazer. Musicalmente, uma música fora do comum, onde muda-se o estilo em vários momentos. “Confusão mental” como já me confidenciou Cláudio Venturini.
“Muro da Vergonha” é a destruição da Terra pelo amor. Quer coisa mais linda do que morrer depois de viver de amor? E o solo de guitarra nessa música é muito bonito, com uma orquestra de sopros casando o tempo todo.
“Roupa Prateada” foi a música mais moderna dele – pra 1974 era novidade no Brasil uma música rock n roll no refrão e sintetizada no início. O refrão foi uma resposta à ditadura militar no Brasil, que enquadrou-o por conta de suas letras onde desconfiavam ter algumas mensagens escondidas. “Eu só preciso dizer pra vocês, que eu não ofereço perigo. O que eu tenho pra lhes dizer é somente aquilo que eu digo”.
Após acompanhar Milton Nascimento em diversos shows, veio a música “Circuito Universitário”, que diz sobre uma pessoa constantemente na estrada, tendo amores em cada lugar onde para, onde nenhum relacionamento vai adiante, onde as histórias só se cruzam de maneira inesperada pra nunca mais. Mas por que eu citei o Milton acima? Era uma época onde se faziam muitos shows em universidades, o lançamento do disco “Milagre dos Peixes” dele foi na UFMG lotada.
“Noite de Sábado” é uma ‘autobiografia não autorizada’, como ele mesmo dizia. É a história de amigos que arrumam brigas por diversão. É, este cara deve ter tido uma juventude muito maluca…
A música de sucesso do disco foi “Um Rock Para Futuras Gerações”, teve até clipe no Fantástico, que era um grande sucesso na época. Bem dançante e com influências de Elvis e Beatles no estado mais cru. “Cadeira Vazia nº 2” é aquele som sofrido, que mostra que algo está no fim. No caso da letra, a esperança talvez.
“Os bons velhos Tempos” é o choque de gerações, um rockão, guitarra fazendo riff, pra depois quebrar e virar o rock mais dançante. E a letra de um pai reclamando da música que o filho escuta e depois a resposta do filho, e ele ainda faz dois refrãos na música. Genial como no estilo Zé de ser.
Para fechar o disco poderia ser “Não Perca o Final”, tem clima de encerramento, com o piano na introdução bem embolado, e uma mistura de tudo que ele tocou no disco. Mas isso seria tornar zé previsível. E isso ele nunca foi. É em “A Roupa Nova do Rei” que ele encerra, de maneira gloriosa. Ok, uma observação, essas duas músicas se emendam uma na outra, não existe o silêncio no disco quando troca de faixa, mas o artista quis assim então são duas faixas mesmo. Uma marchinha simpática, finalizando com uma criança cantando uma cantiga popular (ouça, você irá conhecer).
Para o disco não vou pegar uma cerveja artesanal, especial ou de alguma forma, diferente. Vou direto ao ponto. Para um som como o do Zé, nada melhor que uma “Original” da cervejaria Antarctica. Cerveja típica de buteco, estilo Pilsen, com o gosto da cevada e feita para beber em quantidade. Acompanha muito bem com porções do tipo Batata Frita, torresmo, jiló frito… O negócio é poder beber!!!
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