Perfume Azul do Sol – 1974 Nascimento
by Pedro Cindio
Este é daqueles discos icônicos da música brasileira. Primeiro porque ele é o único registro da banda. Segundo porque as composições são marcantes. Terceiro porque a vocalista Ana decidiu manter o disco sem divulgação, por ser dona da maioria das músicas. Isso fez com que todas as cópias do disco ficassem com os integrantes e quem eles escolheram, além daquele jabá de gravadora. Sim, um disco tão raro quanto o Paêbirú.
O grupo foi formado por Ana (voz e piano), Benvindo (voz e violão), Jean(voz e guitarra) e Gil (bateria e vocal), chamaram o baixista Pedrão (que viria a tocar com O Som Nosso de Cada Dia). Se as pessoas elogiam o Rock Rural de Sá & Guarabyra, foi aqui onde a semente deste rock rural foi plantada. O peso e energia do rock não ficam separados no disco, como bem provam as músicas Abraço no Baião e Equilíbrio Total. É Benvindo quem traz para a banda as influências nordestinas, que dão aquele ar regional.
É após o divórcio de Ana e Benvindo que a banda se desfaz, mas deixando a nós esta preciosidade magnífica. Achei esse texto que foi escrito por Chico Lobo:
“Eu toquei nessa banda que: Nunca fez nenhum show; Nunca foram fotografados além da foto do disco; Nunca tocaram no rádio.
Fizeram esse disco pela gravadora Chantecler no estúdio SONIMA que ficava na Av. Rio Branco em São Paulo.
Saíram apenas 300 cópias que a gravadora distribuiu de presente de natal de 1974 aos melhores lojistas de disco de São Paulo.
Um mês depois da gravadora “lançar” esse disco, metade da formação da banda foi embora ficando Ana e Benvindo que convidaram a mim (Chico Lobo) e Marco Antonio dos Santos (Mactola do baixo) para tentar continuar a banda. Com essa segunda formação… a partir de então a banda fez uma única participação na TV Cultura de São Paulo no programa “Música e Cia. Ilimitada”,
Depois dessa apresentação, Benvindo e Ana se separaram e Benvindo segue carreira solo retornando a Porto Velho, sua terra natal.
Ana Maria Ferraz Guedes desapareceu do cenário musical de onde permanece no anonimato até hoje.
O grande músico Pedro Baldanza não era baixista efetivo do Perfume Azul do Sol, apenas participou das sessões de gravação do disco com sua ex mulher Marcinha (back vocais) … Depois dessa gravação ele consolida o grupo Som Nosso de cada Dia com Manito e Pedrinho, reconhecida até hoje como uma das melhores bandas do progressivo Brasileiro
Esse disco NASCIMENTO é um parto interrompido, um fantasma na música brasileira, mas ao mesmo tempo um marco invisível na história de nossa música, e hoje, depois de quatro décadas passadas ele é reconhecido por muita gente entendida em música como uma grande obra musical desperdiçada no tempo. Talvez por imaturidade e despreparo de sua liderança, talvez pelo vanguardismo de suas composições, ou as duas coisas ao mesmo tempo o que nada justifica.
Um disco produzido na mesma época e pelo mesmo produtor que lançou Secos e Molhados (Moracy do Val), não conseguiu trilhar o mesmo caminho de seu contemporâneo Ney Matogrosso nascidos no mesmo berço empresarial.”
Se liga no faixa a faixa.
Iniciando com 2.000 Raios de Sol, uma música que chega mostrando o que a banda sabe fazer. A música psicodélica! Tanto a letra quanto o instrumental podem dar um pequeno nó na cabeça. Seguindo com Sopro, um tanto reflexiva, e que conta com lindos backing vocals.
Em Calça Velha a banda mostra sua pegada virtuosa, no melhor estilo Yes, tendo a Deusa Sombria como música seguinte, que como o nome mesmo diz, é uma pegada meio terror. O clima fica tenso no disco. Aqui vale o destaque para o efeito de voz na Ana que deixa o clima da música bem interessante.
Abraço no Baião e Equilíbrio Total fazem a melhor sequência no disco. São duas músicas com pegadas regionais, sem deixar de lado o progressivo. Assim como a faixa título Nascimento que o baixo tem um destaque bem legal, com um refrão daqueles bem malucos.
Pé de Ingazeira conta uma linda história real de um pé de árvore que fora cortada. Tanto ela quanto a música Canto Fundo se assemelham a um lamento.
Para fechar, temos A Ceia, que conta a história do quadro. Inicia bem mais densa, bucólica, com uma explosão de instrumentos no decorrer, enquanto a voz canta em agonia.
Um disco que deveria estar dentro das casas de todos os brasileiros baseado na constituição do direito à boa música.
Mas para acompanhar, nada melhor que uma Brüder de Coquinho Azedo. Um disco incomum precisa de uma cerveja incomum. Uma fruta também conhecida como Butiá, é adocicada e bem saborosa. A cerveja traz o amargor leve com um belo gosto da fruta, deixando o retrogosto bem forte, fazendo uma confusão no paladar. Assim como o disco fez com seus ouvidos.
Ah, vale essa cerveja também por ser feita com plantações de coquinho azedo de quilombolas sendo parte da venda revertida para a comunidade.
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