JOELHO DE PORCO – SAQUEANDO A CIDADE

JOELHO DE PORCO - SAQUEANDO A CIDADE

O Joelho de Porco surgiu em São Paulo em 1972, liderado por Tico Terpins (ex-guitarrista dos Baobás) e Próspero Albanese. Sempre irreverente e caçoador, em termos de atitude o grupo é considerado por alguns uma manifestação precoce do punk no Brasil, detentor de um autêntico “espírito de porco”. Graças a isso, carregou durante muito tempo a fama de “banda de segunda”. Não porque eram ruins, pelo contrário. Foram vítimas do preconceito ouvintes desatenciosos e incapazes de perceber que as músicas não são bregas, mas sim puro deboche!

Por outro lado, o tom humorístico da banda conquistou (e continua conquistando) uma legião de fãs fiéis ao longo dos anos, que disputam seus vinis e CDs. Além, é claro, de preparar o cenário para uma série de grupos que surgiriam nos anos 80 seguindo uma linha similar, tal qual o Língua de Trapo.

O disco abre com “Repórter Esso”, música que só irá soar familiar par quem tem mais de 35 anos pois era o tema de abertura do programa homônimo (mais informações – http://migre.me/mMXlM ). A música é apenas a intro da abertura em guitarra, um timbre bem bacana. “Vai Fundo” é uma música perfeita para iniciar as partes cantadas do disco. Começa com um casamento lindo da cozinha entre baixo e bateria, com uma guitarra limpa que chega a brilhar o timbre.

o disco segue com “Apache” que é mais a introdução da música seguinte. Destaque ao timbre também que nesse disco parece ter sido escolhido depois de muito. “Funiculi Funiculá” é uma versão da tarantela italiana, mas uma versão bem metal. “Noites em Moscou” é a tradicional música russa com uma acelerada no final e gritos bem engraçados. Mas “Homem do Imposto de Renda” é um reggae satírico sobre a burocracia que tínhamos (tínhamos ? ) no Brasil.

“Diana” na sequencia para dar um up no disco e chegar ao maior clássico da banda, “Maldito fiapo de Manga”, versão diferente da original do disco “São Paulo 1554  / Hoje” lançado em 1974. “Bom Dia São Paulo” é uma música de amor para a cidade que cresceu desordenadamente. “Bonanza” é uma tiração de sarro de temas de séries de TVs antigas. Mas é em “Pé na Senzala” que tenho que destacar o instrumental da banda. O baixo é simplesmente incrível deste black soul.

“Vigilante Rodoviário” é mais uma sátira de aberturas da televisão, é um clássico do programa da Tv Nacional. “Bom Dia São Paulo nº2” é uma versão mais Soul gospel desta canção. “Rock do Relógio” tem a melhor letra que Zé Rodrix canta neste disco. Essa música é simplesmente uma poesia maravilhosa da reflexão de gerações. Linda música.

“Sons de Carrilhões” é uma passagem bem humorada de um certo alguém tirando um som na guitarra e errando. Após, repete-se a “Funiculi Funiculá” porém em modo playback. “Ue O Muite Arukou” (canção de um seriado japonês…) vem introduzida por uma narração sobre o descobrimento da América e o impressionante espetáculo do moderno capitalismo.

Em “Telmo Martírio” a banda faz uma crítica pesada ao crítico de música Telmo Martírio. “Conjunto de Beira de Piscina de Filme Italiano” é mais uma passagem de Tv, desta vez de um comercial, assim como a sequente “Afrikaan Beat” que é uma tiração de sarro mais resumida.

“Dia de Ação de Graças” é a história de Joaquim Ferreira Prado um católico que se apaixona pela judia Sarita, filha de Isaac Isaias (Isaac Isaias foi um produtor da Polygram). Os familiares cercam Joaquim e fazem a circuncisão nele. Bem engraçada. Mas por falar em música engraçada, “Um Trem Passou Por Aqui” é onde eles pegam pesado no humor. A música é a história de como o Roberto Carlos perdeu sua perna e usa uma perna mecânica hoje (que na música é apelidada de Margarida). Pelo visto deus perdoa, mas o Joelho de Porco não.

“Hora de Dormir” é mais uma vinheta televisiva. Pesquisando sobre a banda, vi que Tico Terpins fazia diversos jingles para televisão. Está ai o motivo de tantas músicas referentes à televisão. O disco fecha com ” A voz do Brasil”, música vencedora como “Melhor Letra” no Festival dos Festivais da Tv Globo.

Enfim, são 24 músicas que cada vez que ouve quer ouvir mais. Sempre achei Zé Rodrix genial, mas a junção dele com o Joelho de Porco ficou simplesmente fantástica. uma pena que o Brasil não tem mais espaço na mídia para artistas com esse nível de talento.

paulistania

Para acompanhar, nada melhor que lembrar de São Paulo, não é? Então aqui vai a cerveja “Paulistânia”, da cidade de Cândido Mota. A de Malte é uma cerveja refrescante, aromática e encorpada, com um gosto ótimo de malte e amargor muito harmônico. Com apenas 4,8% de teor, ela desce muito bem.  Acompanha desde pratos leves como grelhados, sushis e saladas, e também frituras como batata frita e jiló frito.

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Pedro Cindio - Jornalista narigudo, músico frustrado e apaixonado por música, tenho um toc de só escutar discos completos. Cervejetariano e feio, mas meu humor salva a aparência.

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