OS MUTANTES – Haih or Amortecedor
by Pedro Cindio
Este disco é coisa nova. Nova e velha. O retorno d’Os Mutantes foi algo sensacional, especialmente para uma geração que não pode ver a banda tocando como foi a minha. Em 2007 eles fizeram o show de aniversário da cidade de São Paulo e pude ao menos ver com Arnaldo, mas sem Rita. Mas este disco…
O disco quando foi anunciado foi algo estranho. Será que seria bacana? Arnaldo já avisou que pularia fora. O último disco tinha sido o ‘Tudo Foi Feito Pelo Sol” (turnê atual da banda é o disco na íntegra).
Ouvi a primeira vez indo para Marília, cidade do interior de São Paulo. Fui para trabalhar em um jornal local. O disco me conquistou logo de cara.
Disseco agora.
Haih or Amortecedor é um disco cheio de enigmas. Coisas se descobrem depois de ouvir algumas vezes. Haih quer dizer corvo. O mesmo da capa e o mesmo presente em outras partes do disco.
O disco começa e termina com uma colagem, “Hymns of the World Pt.1 (Intro)” e “Hymns of the World Pt.2 (Final)”. Na primeira parte, Vladimir Putin dirige-se ao exército soviético, na segunda, o hino brasileiro mesclado com o soviético.
“Querida Querida” mostra uma música perfeita para abrir show, e Bia Mendes atinge notas altíssimas, impressionante. E como sempre, o jogo de palavras típica das letras de Sergio Dias e Tom Zé.
‘Teclar’ é o típico romance moderno. Interessante que nessa música -como outras do disco- ele retoma o passado da banda. “Sabe a Virgínia daquele janeiro? Casou-se com um motoqueiro”. Arrepia.
“2000 e agarrum” é uma das músicas mais divertidas que já escutei. Muito legal, lembra um tanto a regravação de “2001” do Tom Zé que os Mutantes fizeram nos anos 70 e posterior com o ao vivo em Londres com a Zélia cantando. Bia consegue cantar com rapidez e clareza cada nota de sua voz, e um sotaque mais lindo que dá para se apaixonar só ouvindo. Se o disco tivesse só essa música já valeria a pena. Mas tem muito mais…
“O Careca” é a que mais puxa para o rock progressivo psicodélico. Música com contra tempo pesado e um teclado que ‘frita’ o tempo todo do refrão. Espero que ao ouvir este disco já esteja alterado com a cerveja já nessa música.
“Bagdad Blues” joga com personagens atuais, um blues cadenciado mais puxado para os do B.B. King. É seguida pela “O Mensageiro” que tem o melhor refrão do disco (e ainda cita o corvo da capa).
O companheiro tropicalista Tom Zé é coautor de seis faixas e ainda divide com Bia Mendes os vocais de “Anagrama”, uma balada bem puxada ao pop, mas com uma letra curiosa. Maioria das palavras não são terminadas. Só escutando para entender.
“Samba do Fidel” é inegavelmente comparável com “El Justicero” de 1971. “Nada Mudou” também lembra a sonoridade antiga, principalmente o instrumental a la Beatles e os vocais mais adocicados de Sérgio Dias.
“Neurociência do Amor” tem uma cara bem atual, com uns contratempos que me fez lembrar de Zé Rodrix. Para terminar as composições – antes da colagem que inicia e termina o disco- “Gopala Krishna Om” é mais um mantra que mistura dialetos. Bem maluco.
Mesmo sendo um disco atual, ele entra nos 100 mais do Brasil pois depois dos anos 90 são poucos discos que merecem algo. Esse disco veio como uma surpresa maravilhosa, sem rótulos de rock, pop, jazz, blues, samba, o que for. Composições livres, misturas de línguas, Um disco que daqui uns anos vai voltar aos ouvidos das pessoas. Igual os caras fazem hoje com o “Tudo Foi Feito Pelo Sol”
Para ouvir esse disco precisa de uma cerveja forte com alto teor alcoólico. Faxe Extra, cerveja Dinamarquesa de cor dourada e com 10% de teor alcoólico. Preferencialmente , tomar na caneca de um litro. Cerveja que conforme você vai bebendo, ela vai adocicando. Portanto, mesmo esquentando ela pode ser degustada.
Recommended Posts
Perfume Azul do Sol – 1974 Nascimento
março 22, 2021
Lula Cortes e Zé Ramalho – Paêbirú – 1975
março 07, 2020
Tavito – 1979
abril 23, 2019