Sagrado Coração da Terra – A Leste do Sol Oeste da Lua
by Pedro Cindio
Mais uma banda mineira na lista. Sou suspeito para escrever sobre a música mineira, amo demais o que este lugar fez e ainda faz para a sonoridade tupiniquim. E o Sagrado é um bom exemplo dos melhores representantes da mineiridade.
Criada em 1979, lançou seu primeiro disco apenas em 84, com o titulo de Sagrado. Mas foi no segundo disco, Flecha (em breve resenhado nesta coluna) que a banda estourou no Brasil, por conta de um tema de novela . A banda se destacou pelas letras que sempre fizeram referência a paz, ocultismo, espiritualidade e culto a natureza. Os instrumentais que mesclam o new age e o progressivo dão o toque. Os violinos malucos de Marcus Vianna destacam-se nas instrumentais, muito presentes nos discos.
O disco escolhido é coisa mais nova, lançado em 2000 com diversos convidados, produzido em cinco anos de composições e gravações. O resultado? Um dos melhores discos do grupo . Vamos conferir?
A abertura fica por conta da faixa título, “A Leste do Sol, Oeste da Lua”. A música abre muito bem o disco, é o tipo de música que se abre show também. Os violinos marcam bem e a voz, ora fala ora canta destoa do comum. Em “Ovniana” o violão tem entrada mágica, com um dedilhado lindo. A voz suave de Vianna dão um tom de relaxamento para o disco. A poesia entra cuidadosamente na melodia do som. Uma obra magnífica.
Madame Buttlerfly é a primeira instrumental, entrando a voz apenas para sonorizar a música, sem cantar poesias. Canção dos Viajantes é uma das mais belas poesias de Vianna. O violino realmente frita nesta canção e faz um destaque maravilhoso. A letra da poesia e a voz casam perfeitamente no ápice da música. Quem gosta de viajar vai se identificar com certeza.
Allegro é mais uma das instrumentais maravilhosas que compõe o disco, seguida por Clair de Lune, um som um tanto melancólico. Em Lágrimas da Mãe do Mundo ele abusa da explosão sonora. A música é , em sua maior parte, cantada apenas com um piano seguindo. Após o término da poesia, uma orquestração entra para quebrar o clima, de uma maneira sensacional.
Serras Azuis é bem peculiar, pois é uma homenagem a uma região serrana de Minas Gerais. Sim, as serras são mais belas que mil diamantes brilhando no sol da manhã…
Em Amigos o cravo, guitarra e violão conversam muito entre si. Tenho um apreço especial por essa música principalmente porque foi a entrada dos padrinhos em meu casamento. “Arrepeia as costa tudo”, como dizemos aqui em Minas.
Firecicle é uma música ousada, que mistura a cantoria em inglês com uma voz feminina cantando em português. Lindo casamento das línguas.
Seguem mais duas instrumentais, Maia que cresce bastante e Planeta Minas, que lembra mais uma psicodelia de viola e cravo.
Bem Aventurados começa com um violão clássico fantástico, seguido por uma explosão de orquestra e a voz inconfundível de André Matos (ex-vocalista do Viper, Angra,Shaman e agora carreira solo). O refrão é um dos mais belos compostos pelo Marcus Viana. “Arde coração, queima igual fogueira, espanta essa noite pra longe…”
Anima Mundi vai pra mais uma instrumental antes de fechar, com a belíssima interpretação de Terra, do Caetano Veloso. Bela interpretação que junta diversos convidados do disco para este final, que termina de forma apoteótica.
Um projeto bem diferente, trabalhando com instrumentos eletro-acústicos e herdeiro de uma forte tradição erudita, a música do Sagrado Coração da Terra evoca a atmosfera barroca; é uma viagem pelo tempo e pelo espaço às origens e ao futuro de toda experiência musical humana.
Para este disco, indico a cerveja Cosmonauta da cervejaria Burgmann. No estilo das Brown Ales da nova escola americana, corpo médio espuma densa e boas pitadas de caramelo. Viaje nos Cosmos e Caos com um ótimo disco e uma bela cerveja.
Boa viagem!
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